quarta-feira, 28 de outubro de 2009

TV 3D: feira no Japão mostra como imagens podem saltar do televisor para o meio da sala

Mariana Schreiber *

RIO - Quem assistiu à abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim sabe o quão difícil será para as novas sedes olímpicas superarem o espetáculo chinês. Mas, se depender da tecnologia dos vizinhos japoneses, os Jogos de Londres, em 2012, já terão um artifício a mais para encantar o mundo: a transmissão 3D. Mesmo antes disso, a indústria do entretenimento promete que será possível curtir filmes e games em três dimensões no sofá de casa.

Recentemente, Panasonic, Sony, Toshiba e Sharp apresentaram seus modelos de televisão Full HD 3D na Ceatec, maior feira de eletrônicos da Ásia, realizada em Chiba, no Japão. Visitantes lotavam os stands das companhias e emitiam coros de "ohhhh" ao ver carros, dinossauros e atletas transpondo a tela e saltando sobre suas faces.

As empresas conseguiram produzir TVs 3D com qualidade de imagem em alta definição e telas menores (entre 50 polegadas e 60 polegadas), para que tenham preços mais acessíveis. O objetivo das companhias é levar a experiência dos cinemas para a sala de centenas de milhares de famílias a partir de 2010. Inicialmente, os principais conteúdos disponibilizados em três dimensões devem ser filmes e jogos, mas já existem redes de TV investindo no novo formato e a expectativa dos fabricantes - como a Panasonic, que fornece oficialmente as câmeras para o registro dos Jogos Olímpicos - é de que os próximos já terão transmissão em 3D.

Quando olhamos ao nosso redor ou focamos em algo, nossos olhos esquerdo e direito captam imagens levemente diferentes. Essas imagens distintas são recebidas e processadas por nosso cérebro, permitindo que tenhamos percepção da profundidade espacial. Da mesma forma, para que a imagem em três dimensões seja produzida artificialmente numa TV, é preciso que a cena seja gravada simultaneamente sob ângulos ligeiramente diferentes, o que atualmente é feito com câmeras especiais de duas lentes. Depois, essas duas imagens são exibidas e, com o filtro de óculos especiais, causam o efeito tridimensional.

A tecnologia 3D atual usa transmissão Half HD. Nesse caso, as telas são divididas em linhas ou em quadrados como num tabuleiro de xadrez, e as cenas para cada olho são transmitidas simultaneamente, ocupando, cada uma, metade desses espaços. Com isso, 50% da qualidade da imagem se perde. Nas novas TVs, imagens em Full HD são transmitidas alternadamente - cada uma delas ocupa todos os pixels disponíveis na tela. E os óculos utilizados funcionam com obturadores, de modo que a lente de cada olho se abre e fecha alternadamente, em sincronia com as imagens exibidas, a 120 quadros/segundo - tão rápido que parece que as imagens são transmitidas ao mesmo tempo.

Chegada de aparelhos ao Brasil depende de sucesso lá fora

A Philips está investindo no desenvolvimento de uma TV 3D que dispense o uso de óculos, mas, de acordo com executivos da Panasonic, será difícil atingir isso em pouco tempo e manter a qualidade da imagem. Sem óculos, a transmissão em 3D exigiria resolução maior, o que encareceria muito o produto.

Quanto à venda da TV 3D, a Panasonic é a que está com cronograma mais adiantado e promete colocar no mercado uma de plasma de 50 polegadas e um aparelho 3D Blu-Ray já em 2010, no Japão, EUA, Europa e inclusive Brasil - embora a chegada da nova televisão por aqui vá depender primeiro do sucesso de vendas lá fora. Mas os executivos da empresa parecem otimistas. Hitoshi Otsuki, diretor responsável pelas operações da Panasonic fora do Japão, acredita que, em um ano de comercialização, as TVs 3D correspondam a 15% dos aparelhos vendidos pela empresa no Brasil, o que representaria 75 mil unidades.

A promessa é de que o novo brinquedinho não custe uma fortuna. As empresas não divulgaram preços, mas a Panasonic deu dicas. Executivos disseram em uma coletiva na Ceatec que a companhia estuda cobrar por volta de 20 mil ienes (cerca de R$ 390) por um jogo de quatro óculos necessário para assistir ao 3D. Esse valor representaria 10% do preço da TV, que giraria então em torno de 20.000 ienes (cerca de R$ 3.900). Mas a Panasonic frisou que essa relação foi resultado de uma pesquisa de mercado e não há nenhuma definição.

De qualquer forma, o preço no Brasil seria mais salgado, devido aos custos de importação. A boa notícia é que, dependendo da demanda, a Panasonic pode até produzir as TVs na fábrica de Manaus, pois o investimento para um upgrade na planta não seria muito alto, garantiu Otsuki.

- Nossa TV 3D não será muito cara - prometeu Hiroshi Miyai, diretor do Centro de Desenvolvimento de Qualidade de Audio & Vídeo da Panasonic. - Acreditamos que a produção em massa seja totalmente possível.

Os stands da Ceatec eram uma mostra de que a briga entre as companhias vai ser boa. A Panasonic montou uma sala de exibição com uma tela de 103 polegadas para mostrar o trailer de "Avatar", o novo filme de James Cameron, o diretor de "Titanic", que foi produzido pela Fox em parceira com a companhia japonesa. A Fox não confirma as cifras, mas, segundo a imprensa americana, a película é a obra mais cara já realizada em três dimensões, tendo custado mais de US$ 200 milhões. Considerando que o filme estréia mundialmente em dezembro e será lançado em Blu-Ray em março de 2010, pode-se esperar que já no primeiro semestre as TVs 3D da Panasonic começarão a ser comercializadas lá fora. Os vultosos investimentos para sair na frente na venda do produto têm como objetivo fazer com que o consumidor associe automaticamente a nova tecnologia à companhia.

- Queremos dar a impressão de que 3D é Panasonic - disse Masayuki Kozuka, gerente de estratégias para dispositivos de armazenamento da Panasonic.

Sony quer usar tecnologia 3D no PlayStation 3


Mas a empresa não é a única que está investindo em conteúdo. O filme 3D da Sony Pictures "Tá chovendo hambúrguer", atualmente em cartaz nos cinemas, estreou em primeiro lugar na bilheteria americana, arrecadando US$ 30,1 milhões no primeiro fim de semana. E a história também virou videogame. Além da TV e do Blu-Ray, a empresa quer vender já no ano que vem um novo PlayStation 3 com capacidade 3D. A Sony, no entanto, não detalha em que países os produtos serão lançados em 2010. Na Ceatec, a nova tecnologia tridimensional podia ser apreciada em oito aparelhos LCD de 52 polegadas, num stand que mais parecia palco de show de rock, com direito a telão (em 2D), desfile de modelos, jogo de luzes e música dos Rolling Stones em alto volume.

- Queremos fazer disso (3D) uma nova forma de entretenimento, não apenas uma televisão - rebate Nobuko Katsumata, funcionária da Sony.

Sem data ainda para começar a vender seus aparelhos 3D, Sharp e Toshiba fizeram apresentações mais modestas, cada uma apenas com um televisor - de 60 polegadas e 55 polegadas, respectivamente. Mas a Toshiba impressionou ao exibir sua nova TV de LCD com processador Cell, o mesmo utilizado no PlayStation 3 da Sony. A companhia é a primeira a inserir o chip em um televisor, o que resultou numa imagem em 3D de altíssima qualidade, com taxa de contraste de 5.000.000: 1 - o que significa que o preto observado é realmente preto e não cinza.

Por enquanto sem a capacidade de exibir as três dimensões, a TV Cell Regza que chega ao mercado japonês em dezembro pode exibir oito canais simultaneamente e gravar a mesma quantidade por 26 horas seguidas em Full HD. O aparelho permite também acesso à internet e, segundo a Toshiba, possibilita ver conteúdo no You Tube com qualidade próxima a HD. A função de gravação simultânea usa dois terços do espaço de um disco rígido interno de 3 terabytes. O terabyte restante pode ser usado para armazenar parte do conteúdo por mais tempo, além das 26 horas. Soa até exagerado para as necessidades de uma família comum... e o preço inicial é bem salgado: um milhão de ienes (cerca de R$ 19 mil).

Voltando ao 3D, algumas dúvidas ainda persistem. O lançamento dos primeiros modelos depende da aprovação de um padrão em terceira dimensão para televisores pela Blu-Ray Disc Association. Uma questão ao menos já está definida: os Blu-Ray 3D terão também capacidade de rodar os discos em 2D.

Outro desafio é a produção de conteúdo. Canais de TV ainda estão em fase de desenvolvimento da transmissão em três dimensões. Mais adiantada, a Sky britânica anunciou o lançamento de um canal em 3D no próximo ano. Por aqui, a TV Globo fez uma apresentação experimental para a imprensa em agosto com tecnologia Half HD. No caso do cinema, cujos locais de exibição 3D já são mais populares, a produção é mais profícua. No Brasil, já existem 75 salas com projeção tridimensional. Além de "Avatar" e "Tá chovendo hambúrguer", outros filmes tridimensionais já foram lançados nos cinemas este ano ("Harry Potter e o Enigma do Príncipe", "Up" e "Era do Gelo 3") e outros chegarão em 2010, como "Toy Story 3" e "Shrek 4".

E o melhor de tudo é o seguinte: ainda vem muito mais por aí...

Você achava que Full HD era o cúmulo da definição? Ledo engano. Toshiba e Panasonic também mostraram na Ceatec alguns protótipos de televisores com quatro vezes mais pixels. É a TV 4k2k, com definição de 3840p x 2160p.

Tudo muito bom, além disso, ou pior que isso, é que ainda não existe conteúdo sendo distribuído em formato 4k2k. Não é à toa que o aparelho é só um protótipo mesmo e não tem preço nem data de comercialização.

Outra novidade que chamou atenção na feira japonesa foram os dispositivos para aumentar a segurança no trânsito. A Nissan, por exemplo, mostrou simpáticos robôs com tecnologia anticolisão. As máquinas motorizadas conseguem medir a distância de um obstáculo e mudar a rota automaticamente por meio de sistemas de comunicação wireless. O objetivo é empregar a tecnologia em carros no futuro.

Ah, o futuro...

* A repórter viajou a convite da Panasonic

(O Globo 26/10/2009)

Nenhum comentário:

Postar um comentário