TÓQUIO - Perguntar para um japonês se ele conhece o Astro Boy é o mesmo que querer saber se um americano já ouviu falar em Mickey Mouse. O robô-menino - cuja história acaba de virar um filme - é um ícone no Japão e sua influência na história da TV local é sentida até hoje. Tetsuwan Atomu, como o personagem é conhecido em sua terra natal, nasceu como mangá na década de 50 e, em 1963, sua história foi a primeira a sair dos quadrinhos e ganhar uma versão animada para a TV. O sucesso do garotinho fabricado em laboratório e rejeitado por seu pai cientista iniciou a era dos desenhos animados - os animês - na televisão japonesa.
O filme em 3D (batizado de "Atom" no Japão e de "Astro Boy" nos Estados Unidos) baseado na obra de Osamu Tezuka, considerado o "deus do mangá e do animê", é mais um produto japonês a chegar aos cinemas via Hollywood (lembrem-se de "Speed Racer"). No Brasil, a estreia está prevista para o dia 22 de janeiro.
Os fãs mais ciumentos do Astro Boy, que até hoje disputam bonequinhos da série, no entanto, não acham muita graça no fato de um símbolo nacional ser retratado por estrangeiros. Mas o fato é que o robozinho, desenhado há mais de meio século, parece estar renascendo: ele acaba de voltar a ser um mangá, só que do século 21, disponível nos EUA para Iphone e Ipod Touch.
Para os que se perguntam se Tezuka, morto em 1989, aprovaria as novas encarnações de sua criação, Takayuki Matsutani, presidente da produtora que administra a obra do artista, responde:
- No começo fui contra. Não conseguia imaginar um mangá, que é sempre produzido tendo em vista as duas páginas abertas de uma revista, sendo lido nessa $pequena - disse ele apontando para o celular, durante uma conversa com jornalistas, em Tóquio. - Mas mudei de ideia. Acho que minha função é espalhar a mensagem pacifista de Tezuka - afirmou.
A antiga versão de Astro Boy: clássico no Japão
Quando a Segunda Guerra terminou, Tezuka tinha 18 anos. Estudou Medicina, mas decidiu que desenhos cheios de esperança poderiam fazer uma diferença maior num país arrasado. Nos anos seguintes, o Japão atravessaria uma das mais impressionantes transformações do século 20, mas antes de os eletrônicos made in Japan ganharem o mundo, Tezuka já falava em robótica, chips, laser, confronto máquina X homem. Tudo isso está em "Astro Boy".
Na versão para o cinema, dirigida por David Bowers e já em cartaz no Japão e nos EUA, o personagem ganhou a voz de Freddie Highmore (o garotinho da refilmagem de "A fantástica fábrica de chocolate"). A história tem um pouquinho de "Pinóquio", "Frankenstein" e "AI - Inteligência artificial": um cientista que perdeu o filho (na tela grande dublado por Nicolas Cage) cria um robô igual à criança amada. Mas como ele não cresce e não tem as reações de um ser humano, o "pai" o vende para um circo de robôs. Adotado por um professor, ele vira um defensor da justiça, um salvador do mundo e ainda mostra que tem um kokoro (coração).
Na TV japonesa, a série em preto e branco foi exibida pelo canal Fuji, em episódios semanais de 27 minutos. Na época foi uma revolução. Várias produtoras seguiram o modelo e o mercado do animê explodiu. "Astro Boy" foi o primeiro desenho animado japonês a ser exportado. A NBC comprou a história para o público americano e, a partir dos EUA, o pequeno robô com foguetes nas botas viajou o mundo. Para toda uma geração, foi o primeiro contato com a cultura japonesa, muito antes do sushi.
(O Globo, 2/11/2009)
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